Páginas

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Michelangelo, poemas

Chiunque nasce a morte arriva
nel fuggir del tempo; e 'l sole
niuna cosa lascia viva.
Manca il dolce e quel che dole
e gl'ingegni e le parole;
e le nostre antiche prole
al sole ombre, al vento un fummo.
Come voi uomini fummo,
lieti e tristi, come siete;
e or siàn, come vefete,
terra al sol, di vita priva.
Ogni cosa a morte arriva.
Già fur gli occhi nostri interi
con la luce in ogni speco;
or son voti, orrendi e neri,
e ciò porta il tempo seco.


Quem nasce a morte atinge
no fugir do tempo; e o sol
em coisa alguma deixa vida.
Faltam dores e prazeres
inteligências e dizeres;
e nossas antigas estirpes
sombras ao sol, fumaça indo.
Como vós, homens fomos,
alegres e tristes, como sois;
e agora somos, como vedes,
terra ao sol, aniquilada.
Todas as coisas a morte atinge.
Outrora foram nossos olhos inteiros
com a pupila em cada espelho;
ei-los vazios, horrendos e negros
e isso leva embora o tempo.








Se 'l mie rozzo martello i duri sassi
forma d'uman aspetto or questo or quello,
dal ministro che 'l guida, iscorge e tiello,
prendendo il moto, va con gli altrui passi.
Ma quel divin che in cielo alberga e stassi,
altri, e sé piú, col proprio andar fa bello;
e se nessun martel senza martello
si puo' far, da quel vivo ogni altri fassi.
E perché 'l colpo è di valor più pieno
quant'alza più se stesso alla fucina,
sopra 'l mie questo al ciel n'è gito a volo.
Onde a me non finito verrà meno,
s'or non gli dà la fabbica divina
aiuto a farlo, c'al mondo era solo.


Se o meu rude martelo às duras pedras
ora esta ora aquela forma humana plasma,
do mestre que o guia, observa e segura, 
ganha movimento, segue os passos de outrem.
Mas aquele divino que no céu vive e opera,
outros e a si mesmo, ao bater embeleza; 
e se nenhum martelo sem martelo
se pode fazer, desse vivo modelo fogem-se todos.
E como o golpe é de valor mais pleno
quanto mais se ergue na forja,
acima do meu este se alçou ao céu.
Onde não acabado vai falhar,
se não lhe der o engenho divino
ajuda para fazer, pois no mundo me era único






Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni [1475-1564] 



.
Poemas transcritos de:
"Michelangelo poemas". Rio de Janeiro: Imago, 1994.
Apresentação, comentários e notas, Andrea Lombardi; tradução, Nilson Moulin; posfácio, Giulio Carlo Argan.

+

Imagem:
Escravos das pedras [inacabada]; Academia de Florença.
Foto Cris Koelle [detalhe]